DIÁSPORA PARANAENSE
DIÁSPORA PARANAENSE
Meu amigo José,
Filho pródigo de Maringá.
Você nunca mais deu notícias,
Engrossou a fila dos migrantes,
É mais um paranaense errante,
Perdido na Pauliceia!
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“Procura-se:
Homem justo,
Simples,
Natural do Paraná.
Quem encontrá-lo,
Será presenteado com uma canção.”
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José,
Você é tão simples,
Tão puro!
Um trovador do sertão!
Agora, um ser apagado...
O seu violão está calado,
Sufocado na multidão.
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“Procurado:
Paranaense ausente,
Um caçador de ilusões,
Favor entrar em contato
Através deste poema.”
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Meu amigo José,
Já não ouço a sua voz
Acordando a madrugada,
Despertando a passarada
Que dorme nos pinheirais.
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“Urgente:
Recompensa-se bem quem tiver notícias concretas,
Abstratas,
Objetivas ou subjetivas,
Que possam identificar a (in)exata localização
Do esperançoso migrante
Que se perdeu na busca do vil metal”
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José,
Você é tão exato,
Tão casto!
Um típico samaritano.
Hoje, você é estatística:
Um homem sem rosto,
Sem nome.
Um algarismo suburbano!
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“Busca-se - poeticamente - José,
Um filho pródigo do Paraná.
Há décadas que não visita a família,
Não vota,
Não manda notícias.
...
Esqueceu o caminho de casa...”
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José,
Você é negro,
É branco,
Um bugre desconfiado.
É mais um retirante...
Você é brasileiro demais!
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“Desaparecido:
Um rebento de Maringá.
Último endereço: as ruas de São Paulo.
Características marcantes:
Olhar de menino e o cheiro do Paraná.
Estatura: a da honestidade.
Cor: a humana.
Peso: insustentável.
Cicatrizes no ego,
Lacerações nos sonhos,
Marcas de envelhecimento precoce,
Incontáveis queloides nas costas.
Hobbies: canta(dor) e pintor de crepúsculos.”
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José,
Você não é carpinteiro;
Nem o seu filho se chama Jesus...
Você é mais um sem-teto,
Um homem sem paradeiro.
A sua vida é a sua cruz!
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“Carta ao vento:
Amigo,
Perdoe-nos por não o encontrarmos.
Já vasculhamos o palheiro urbanístico,
Investigamos o indevassável,
Interrogamos o silêncio...
Dê-nos uma pista, José!”
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Meu amigo maringaense,
Busco o seu nome na lista dos desaparecidos,
Dos indigentes,
Despossuídos,
Enganados,
Desiludidos,
Dos sonhos abduzidos...
Procuro,
Procuro!
...
Procuro à toa!
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“Abaixo assinado:
Nós, abaixo assinados, pedimos a intercessão dos deuses romanos, indígenas e africanos, para que possamos encontrar um ente querido que sumiu do mapa. Seu nome, José. A localização deste cidadão é indispensável para a Consumação dos Séculos. Amém!“
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“Desabafo:
Quando o conheci,
Eu ainda não sabia ser amigo.
Perdoe a minha ascendência adâmica:
O meu egoísmo,
A minha inveja,
A minha roda dos escarnecedores.
Amigo, perdoe a minha cegueira!”
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José,
Meu nobre brasileiro!
Você é um povo inteiro
Que saiu do interior.
Eu o procuro
Em crônicas,
Em poemas,
E lamentos.
Peço a ajuda dos ventos.
Eu abraço a sua ausência!
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Meu amigo José,
Filho pródigo de Maringá!