Cotidiano

Meu oficio de pó

Que a noite abomina

Nas nuvens enxergar

Felicidades

Nas noites

Saudades

Eternas

Desponta o breu da madrugada

Serena e triste

Cheia de magoa

Acolhe os amantes

E os desamados

Simplesmente milagre

Multiplica as estrelas

Seres de luz

Que ofuscam as trevas

No terceiro minuto

vens aurora

tens brilho de sobra

os meninos e as noticias

as malicias

da rua desnuda

coberta de pudor

A padaria infesta

E com fermento

E cimento

O cinza aparece

Encoberto pela neblina

Que desprende o cheiro de fumaça

Nas casas

As donas

Regularmente

Cafés,bolos e chás

As feiras lotadas de cores

Raízes e amores

Que amanhã somem

Os soldados etiquetam

O preço de se ter coragem

Todos os segredos estão distantes

De todas as demais verdades

As gravatas entram em cena

Uniformizando as classes

Sujas de barro da criação

E da fadiga da noite

Que atormenta os maridos

E dão sorrisos as mulheres

Uma ultima olhada no espelho

Passar a mão no cabelo

Colocar na cabeça a razão

Se fecha a porta a chave

Se fecha paraíso

Se despede a dor e o sigilo

Se deixa o banquete de sonho

Se veste macacão de operário

A graxa do engraxate

Os anéis pétalas de prata

De doutores que não sabem nada

Os carteiros se valem de selos

Que viajam nos ventos dos correios

Deslumbrados imigrantes

Feitos de céus

E cores

Que esperavam mais

Que trocados

Caminhões,carros

A reação demasiada

A buzina ensurdecedora

Dá lugar a tarde dourada

Feita de sesta

Que alivia

A vitória

A noite assusta

As horas

Que seguem e vão

E vão embora

As sirenes serenam

O silencio

Que silencia

Os pavores da casa

Que descasa

A vontade

De ser

A insônia que regula

O pecado da gula

Intensifica movimento

O ronco dos motores

E dos humanos

E dos bichos do escuro

As luzes iluminam a claridade

Das moças a espera dos rapazes

Que invadem as chances

Que terminam instantes

Os meses curtos

Como calendários de bolsos

Nas carteiras

Vazias

Dos achados e perdidos

Num museu de horrores

Os cães ladram

E alguns mordem

Tudo fica a margem

De um recreio que pausa

O mistério e a miragem

O sol da noite

Esturrica as roupas nos varais

Que varam a madrugada

Vagamente

Desaparece

A fé

Que desvenda o teto

Feito de negro

Onde se escreve com giz de sol

Os cometas e as estrelas cadentes

Se exibem no nada

No quarto minuto

Da aurora

Ressurgi a correria dos amarelos

Que dão lugar aos laranjas da tarde

Ao cinza da noite

A fraca carne

Que se despe com um sorriso de alivio

As nuvens preparam a chuva para serenar

Para alguns rirem

Para outros apenas chorar

De lembrança que umedece as paredes

E enche o chão do banheiro de aflitos

Perdidos pedidos

Que rezam

As velas de sete dias

Que sentenciam a semana

Todos os futuros estão com cadernos

Exibidos a tira colo

Todas as merendas

E a fome para consumi-las

Que dão lugar

As brigas dos casais

Que casam

Separam

E voltam atrás

Nem sempre nessa mesma ordem

Nem sempre pra sempre

Ou jamais

E tudo é nada

E passa

breve

Camila BV
Enviado por Camila BV em 23/10/2005
Código do texto: T62639