Ano 2018, do século XXI

Guarde muito bem essa data,

pois daqui a pouco Nicolás Maduro passa

e outro Nicolás virá, verdinho,

para amadurecer e se perpetuar no poder.

O poder não muda nunca. Não cede jamais.

Temos muitas Venezuelas dentro do Brasil,

com os seus próprios retirantes,

em busca de algum tipo de refúgio

e quem ainda não os viu, foi porque não quis

ou porque não quer

e a dor dos outros não pode ser maior

que a nossa.

Salvo maior engano,

como socorrer os médicos cubanos,

se não damos conta nem de nós?

Entre uma fratura simples e outra exposta,

qual deveremos tratar primeiro?

Nem precisa nem dar a resposta.

Temos as nossas próprias fossas,

onde a água suja mistura-se com a limpa,

por falta de saneamento básico.

Aliás, o básico, é o mínimo,

que quase conseguimos ter.

E ainda assim tememos por dias piores.

O Haiti taí. Ainda não passou.

Ajuda humanitária. Um gesto lindo,

mas, bem-vindo ao Haiti daqui,

no sertão do cariri,

onde, por falta d’água,

nem se consegue diluir as mágoas.

Fome?

Difícil mesmo é encontrar quem come todos os dias.

Não se trata de se fechar fronteiras,

isso é uma besteira muito grande.

Orfanatos também não resolvem nada,

enquanto não acabarmos com o abandono.

Com o pano do uniforme do presidiário,

visto pelo menos três alunos do ensino primário,

que por ironia, agora se chama fundamental.

Réu primário é quem é condenado pela primeira vez

mas que será, com certeza condenado outras mais vezes,

uma vez que a educação, por causa da situação,

de fundamental, tornou-se ocasional.

Político não presta o vestibular, não tem que estudar

e ainda assim decide o futuro do professor.

Mas que futuro, meu senhor?

Dor maior é a que a gente sente,

mas considero cruel a situação dos venezuelanos,

mas estamos duelando,

para saber quem morre depois.

Todo tirano tem o seu lado desumano,

mas não é mais humano,

aquele que enxerga e não quer ver.

E dentre os muito cegos,

primeiro eu vou guiar o meu,

depois sim, os da rua

e dentre todas as meninas nuas,

eu vou vestir primeiro a minha,

senão como caracterizar o assédio?

E lá no prédio hão de me questionar:

-porque é que a sua menina estava nua?