Uma xícara de café

Outro dia o Lucas estava comigo,

E conversávamos como amigos,

Tomando um bom café

E fumando um belo cachimbo.

Entre goles e baforadas

Nós discutimos ali na sala

A persistência do servilismo.

Uma dor em seu braço esquerdo

O lembrou dos desmazelos

Na escravidão do povo negro.

Foi que eu olhei direito

E nos vi obsoletos

Impactando o autoflagelo.

E, quanto mais profundo estávamos

Mais distantes no assunto nós ficávamos,

Sentados ali, naquele mesmo sofá.

O café era o mesmo,

O cachimbo também era o mesmo,

Diferente, mesmo, era só o jeito

De cada um analisar.

Obstinados num domingo

Galvanizamos nossas mentes,

Assim como faz o zinco,

E de modo inconsciente

Começamos destoar.

Quem podia falar não?

A polícia ou o ladrão?

Talvez nenhum dos dois, afinal,

Não é coisa do destino "o que é ou não é"?

Então, o que é certo falar?

Que em meio àquela indagação,

Quem ali tinha razão

Era mesmo um cachimbo,

Uma xícara de café

E um já velho sofá.