Os Fantasmas dos Semáforos

“... E há tempos

Nem os santos têm ao certo

A medida da maldade

E há tempos são os jovens

Que adoecem

E há tempos

O encanto está ausente

E há ferrugem nos sorrisos

Só o acaso estende os braços

A quem procura

Abrigo e proteção...

Meu amor!

Disciplina é liberdade

Compaixão é fortaleza

Ter bondade é ter coragem...”

(Renato Russo)

Eles estão lá, são invisíveis aos olhos insensíveis.

Pés sujos, roupas amarrotadas, olhos sem brilho, sem alegria.

Estão a limpar os vidros dos veículos que abrigam criaturas indiferentes, inconscientes.

Os motoristas ocupados não enxergam os fantasmas que caminham do seu lado, não enxergam seus rostos.

Estão por demais apressados, por demais conformados e já não se comovem com esse drama deprimente, indecente.

Crianças e adolescentes mendigando nos semáforos como se não fossem gente.

Todos nós estamos dormentes.

Ninguém olha em seus olhos, ninguém percebe aquela dor.

A dor de ser excluído, marginalizado, de não reconhecer em si nenhum valor.

É triste parecer invisível num mundo insensível onde quase ninguém se lembra do amor.

Os fantasmas só se tornam gente quando por algum ato inconsequente, tentam tomar de volta o que o egoísmo lhes furtou.

Quando o crime acontece, o fantasma aparece, por alguns instantes são vistos, para em momento posterior desaparecerem novamente em reformatórios de horror.

Segue a população fantasma sustentada por criaturas sem alma, que não possuem calma para refletir que estão vivendo em profundo torpor.

Nijinska Nelly
Enviado por Nijinska Nelly em 11/04/2018
Reeditado em 11/04/2018
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