Um grito de alento

É quando a fome aparece como saciedade

A doença, normalidade

A estupidez, cientificidade

E o privilégio, novidade

Que a revolta vira grito de alento

É quando viver aparece como falta de sentido

O trabalho, suor apenas do desvalido

O tributo, carga do combalido

E o discurso falso, arma do ressentido

Que a revolta vira grito de alento

É quando nos tolhem o parco espaço

Nos impõem um futuro crasso

Nos querem dobrar o espinhaço

E cobrar gratidão pelo direito em descompasso

Que a revolta vira grito de alento

É quando a barbárie se amplia no horizonte

A nossa miséria, sorrisos de um monte

A minoria que se apropria da fonte

E nos querem curvar a fronte

Que a revolta vira grito de alento

E quando tudo parece passado e desilusão

Contraditoriamente estendem a mão

Os que alinhavam anseios dos que só sabem do não

A enxotar os que de tanto sim, não sabem quem são

Soam uníssonos os gritos nesse momento

Inflama-se o que era simples alento

E a revolta se converte em movimento

Thiago Mandarino
Enviado por Thiago Mandarino em 24/04/2018
Reeditado em 11/02/2023
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