Um tiro no próprio pé

Reféns de caminhoneiros,

porque se esqueceram das ferrovias,

abandonadas entre uma estação e outra,

numa gestação interrompida e aborto é crime.

São relatos de um capixaba, quase mineiro.

Quase carioca e quase baiano,

mas acima de tudo, um brasileiro,

mais um na fila dos descontentes,

carente de quase tudo e deficiente de cuidados.

Justo ele que viu trens com vagões lotados de gado,

levando muita gente com seus sonhos,

trabalhadores, turistas, anarquistas e aventureiros,

cortando vale do rio doce,

por uma empresa do mesmo nome.

Transportava, o trem, também muito minério,

num enorme mistério quanto ao não desenvolvimento,

ou, talvez e quem sabe, comprometidos apenas,

com os estrangeiros que trouxeram as primeiras ferrovias,

com uma forte participação dos britânicos,

com projetos revelados satânicos,

aliados aos diabos daqui

e o vale, hoje, dá pena.

Os mineiros, uns pobres coitados,

escravos de mineradores abastados,

que depois de terem levado todo o ouro,

continuam levando o que puderem.

Morreram as ferrovias, de frio, ao relento

e são precárias as rodovias,

destacando-se, ainda, as que cobram pedágio,

numa espécie de ágil sobre o que já pagamos.

Mas, se o petróleo é nosso,

por que é que é tão caro?

Será porque somos otários

ou porque o carcereiro é escolhido

pelo bandido?

Nos vagões cabiam muito mais sonhos.

E mais gado e mais cana.

E mais minério e mais honestos.

E mais sacanas e mais bacanas.

Mais combustíveis e como são horríveis,

essas crateras nas estradas.

O pneu rasgou, enquanto que,

roda de trem, não rasga.

A maria fumaça -piui, piui,

virou acervo de relicário

e para chegar ao seu destino,

á sua última estação, então,

foi transportada, de madrugada,

por uma enorme carreta,

que deve ter atolado algumas vezes,

já que era inverno, período de chuva

e o ministro, um sujeito muito sinistro,

cinicamente culpou os meteorologistas,

pelo equívoco na sua previsão do tempo.

E é por isso que os japoneses são o que são

e lhe pede perdão, Maria Fumaça,

uma velha amiga, hoje sem graça,

esse cidadão capixaba, quase mineiro,

quase carioca, quase baiano,

mas acima de tudo, um brasileiro,

no país mais lindo do mundo,

que por sua imensa beleza,

só foi usado como objeto de desejo

e de sedução.

Ô ‘treem’, perdão!

Mas, como por aqui os escândalos,

são sucessivos e progressivos,

cabe ressaltar, que estamos no ano dezoito,

do século XXI,

coincidentemente ano de eleição,

com candidatos que não gostam de trem nenhum.

Força de expressão.