- Pois não?

Vê se sobrou um pouco

Daquele pó de café

Do pó que acorda os Homens?!

Vê, por favor, se ainda tem

Daqueles rostos refletidos n’água

Dos homens refletores em estádios

Dos reflexos dos truques mágicos.

Vê ainda se sobraram

Aquelas horas perdidas

Olhando as estrelas

Que eu quero perdê-las.

Confere se está no fim,

Mas me dê

As últimas gotas, que sejam,

Do amor mais folgado

Que toma todos os ares e ruas e cidades

Que faz baixarem os olhares, enquanto cora as faces.

Dá cá que eu faço rios dessas gotas!

Ainda tem daquela música meiga

Que fala de alegria,

Não viu a leviandade e

Arrepia cada paralelepípedo da velha cidade?

Vê, pra mim, por gentileza,

Se teve fim aquela felicidade

Que só um balão vermelho podia carregar

E só uma baiana faceira podia cantigar.

Olha aí se tem combustível bastante

Se tem jeito, ou se tem defeito

A minha máquina de voltar.

Vê ainda se há

Livros, mundos

Palcos, públicos

Liras, músicos

Almas fundas

E olhos rasos.

Vê se encontra

Aquele amiúde desmanche

Que dá na boca bolo de vó

Que dá no corpo beijo de amor

Que dá na alma aroma de flor

Entorna vida palavra escrita!

Escorre pelos meio-fios,

Derrete descendo os postes,

Desfila pelos parques,

Inunda secos regos,

Afaga tensos nervos...

Vê se falta muito

Pra onde a poesia alcança

Se sobra pouca abastança

Há pouco furtada aos espíritos

Há muito derramada em danças.