Para você

Este poema não nasceu da tinta nem da folha ou da imaginação do demente pobre poeta

Ele não quis a criatividade como sua parteira nem a técnica como sua madrinha

Não nasceu do suor ou sofrimento e dores de amor e traição, não foi inspirado

Nasceu feito, nasceu triste, nasceu da saliva do professor que fala sozinho e sonha

Com alunos que o dessem atenção e se interessassem por aprender mais para servir

Nasceu do pus, da doença, do sangue do moribundo nas filas de hospitais falidos

Veio à luz no corredor, foi extirpado da seringa do médico que quer ir embora

Nasceu das mentiras dos nossos representantes, dos dólares na bíblia do pregador

Da seiva da flor que não tem mais força nem vontade de furar o asfalto – nasceu gauche

Brilha na tela do computador, todo conectado vendendo solidão – se faz individualmente

Globalizado em língua estrangeira in the highest speed ever humanly conceived, amem

Nasceu do sangue do motoqueiro morto na beira da rua – foi televisionado e narrado

Está e é, por si e para sobrar, feio, denso, sujo, desagradável. Com carinho, para você

Daniel Medeiros
Enviado por Daniel Medeiros em 11/09/2007
Código do texto: T647892
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