DESABAFO DE UM MENOR ABANDONADO
Me deito no papelão
A fome anestesia
O medo me acompanha
A solidão é companhia.
Olhos me observam
Sou um animal sem dono
É triste se viver
Ao léu no abandono
Só tenho oito anos
Mas não sei o que é brincar
Pois para sobreviver
Eu tenho que lutar
Na rua a vida é dura
Só quem vive pra saber
É uma guerra desigual
É matar ou morrer.
São tantas as minhas dúvidas
Que martelam na minha cabeça
O que vai ser de mim
Se por acaso eu cresça
Só vejo violência
Na escola não vou
Eu só conheço o ódio
Não me apresentaram o amor.
Eu sigo caminhando
Em busca do futuro
Que ele seja mais a meno
Pois o presente é duro
E quantos como eu
Vivem o mesmo dilema
Sem perspectivas
Vivendo de pena
Jogados ao relento
Abandonado a própria sorte
O futuro infelizmente
É a cadeia ou a morte.