Pés no chão

Pés no chão

Olhos atentos

Corpo sujo de barro

Cresceu em meio ao crime

E a negação de direitos básicos

Viu tanta coisa ruim

Que uma criança normal

Não teria que ver

E as mãos cheias de calo

São dos ferros que catou

Pra sobreviver

Juntava umas moedas

E entre uma brincadeira e outra se alimentava

Guardava as cédulas

Pois elas garantiam o alimento de casa

Viu seu pai se afogar no álcool e na angústia do desemprego e por sentir suas mão atadas quase entrou em desespero

Pra ele não importava o nike

Nem o nitendo do ano

Bastava ver sua família bem

E não entregue aos prantos

E quando crime quis lhe abraçar

Sabia pelo que estaria lutando

É nessas horas que a gente entende

O ficar rico ou morrer tentando

Quantas vezes viu lágrimas no rosto de sua mãe

E um nó na garganta lhe travar

Quantas vezes ouviu dela " Deus lhe acompanhe"

E questionou sua existência nesse lugar

Sua fé cada vez mais abalada

Viu o melhor amigo sair de casa e nunca mais voltar

E por onde ele passava

O barulho dos tiros insistia em lhe atormentar

Tempos difíceis onde a política pública ainda não chegou

A não ser pelo braço armado do estado

E os corpos que não deixaram estirados

Foi porque a arte e a poesia salvou

Quantas vezes atrás de um sorriso precisou se esconder

Seus problemas psicológicos

E os medos não podiam transparecer

Buscou forças pra resistir e superar a dor

Lutou pra expressar no papel

Os versos que ainda doem no seu interior

Foram poucos, mas importantes os que na caminhada lhe fortaleceu

Abraçou as oportunidades e os ensinamentos que recebeu

Contrariou as apostas e não se rendeu

Compreendeu os caminhos que Oxóssi lhe deu

Cresceu, fez de sua história poesia e sobreviveu

Mais forte do que nunca

Esse menino sou eu.

Evanilson Alves!