UTILIDADE

O mendigo,

no viaduto do vazio,

na esquina da nulidade,

entre o nada e coisa nenhuma,

deitou-se,

sob o teto de zinco das estrelas.

cobriu-se

de pétalas de seus sonhos

e adormeceu.

Acordou morto.

jazia na eternidade do acaso.

Mais tarde,

seu esqueleto foi usado

para dar aulas de anatomia

numa faculdade de medicina.

E assim,

pela primeira vez na vida,

o pobre mendigo

sentiu-se útil.

Mário Annuza
Enviado por Mário Annuza em 30/10/2005
Reeditado em 21/10/2006
Código do texto: T65323