Nos sertões

Pelas as frestas das janelas

Que há abaixo do meu chapéu

Mostra-se um mundo esquecido

Sob o azul do mesmo céu.

A miséria desse quadro

Exposto sob a luz do sol

Nos mostra bem a verdade,

As dores nuas e cruas!

Ouçam o choro das crianças

E o lamento em suas mãos

E que dessas vidas esquecidas

Algumas viraram chão...

Por quem saltam esses rios

Esse pranto de morte e dor!

Pois a vida lhes nega a vida

E, é, a vida o dissabor!

O corre entre os vãos dos dedos

É essa seca e areia tão fina?

Essas pedras que se avultam,

Sem canto!

Essas margens sem verde, sem vidas.

Nessas vidas esquecidas

Nesse brilho de intenso negror

Cantam triste os passarinhos

Pelo o verde que secou...

Essa estrada não engana os sentidos

Nem disfarça os tons do viver

Mostrar a vida, como é a vida,

Aos olhos de quem vê

Por quem cantam esses seres inermes!

Sob o céu azulzinho do torrão

Qual formiga seguindo o caminho,

No andor leva a imagem

E um colar de contas nas mãos.

Serpenteiam as ladeiras

Vão levando o pó sobre os pés

As mulheres tem véu na cabeça,

Os homens vestem chapéu.

Com trejeitos eles batem no peito

Carregando o que lhes restou

Têm nas mãos as marcas da lida

Na face eles trazem a ferida.

Feia aridez do caminho

Com a falta de agua e de pão

Nesse cinza e verdes espinhos

Com feridas nas faces e nas mãos,

Não tiraram a fé e a esperança,

Desses fortes!

Que vivem o sertão.

Ha um vento que cruza os caminhos

Aonde os passos pisaram o chão

Lambe as folhas e faz remoinho

Rodopia e varre o estradão.

Depois sobe ao céu

Transmutado em um vermelhão.

E o mesmo comparsa das gotas

Que beijavam o leito do rio

Quando esse,

Bem vivo e sadio!

Sorridente!

Lhes apertava as mãos.

Quem de cinzas se fez no caminho

Entre o verde dos cactos ficou

Feito o pó, que sustenta os espinhos

Sob a terra,

Que sempre morou.

Quem de vida,

É resto esquecido

Na miséria... De Dante a queimar!

Que de sede, se fez sal, esse chão.

Feito um naufrago que morre sem mar.

Esse canto em tristes caminhos, cujo quadro,

O poeta pintou,

Com seus tons de desgraças e desalinho,

Onde a terra é só morte e horror!

Quem de perto conhece o caminho

Sabe o quanto é pesada essa dor!

Veja o mapa ai bem pertinho,

Na parede a lhe espiar,

Olhe as linhas!

Elas indicam o caminho,

Basta você querer encontrar!

Edivaldo Mendonça
Enviado por Edivaldo Mendonça em 09/01/2019
Reeditado em 29/06/2023
Código do texto: T6546914
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.