A vida é feito feira livre (aos pais por opção)
Clotilde, a mãe do meu filho,
saiu bem cedo para trabalhar e até antes de mim.
É longa a estrada, em sua vida de empregada,
agora como diarista, nessa mais nova conquista,
do movimento feminista e isso após décadas.
Como é bonita a evolução!
Eu, o pai, faço muito bicos,
mais até que um bando de tucanos
e assim vamos tentando remendar os panos,
dessa enorme colcha para tentarmos sobreviver,
já que perdemos completamente a conexão com os bichos.
Lá na selva, quando sai o leão, fica a leoa
ou vice-versa,
em respeito às hienas, bem mais pequenas,
porém, bem mais egoístas e oportunistas.
Thiaguinho, o nosso filhinho,
passa o dia inteiro sozinho e então vai para a rua,
com os amiguinhos para jogar bola,
mas se fosse só bola, estaria bom.
A escola, quando funciona, também não os atrai
e o ensino particular não é solução.
É a primeira omissão,
depois da nossa.
Nossa Senhora, como é difícil viver!
A avó, coitada, mora no interior
e mesmo que morasse perto,
decerto teria que cuidar de si.
Ela só tinha a mim e eu tive que partir.
Não é assim: cada um que cuide de si?
O menininho, coitadinho, não tem uma dona Rosa,
assim como eu tive
ou uma dona Nicinha, como teve a minha mulher
ou mesmo como outras tantas mães,
desconhecidas e não reconhecidas,
mas que são mães por vocação.
É mesmo fato que a vida mudou,
porém, se melhorou,
isso é caso pra se pensar.
Uma artesã não abandona a sua obra,
antes do barro secar,
porque senão, correrá o sério risco,
de depois ter que remodelar...
...e tanto trabalho,
pode ao fim, não compensar.