O MOÇO E A TV.

O MOÇO E A TV.

E lá ia aquele moço/Com cabeça de caroço.

Por uma pista da praia/Que a nova tarde ensaia.

Nos braços uma TV/O grande irmão de um globo só.

Cego do olho, apagado/Quiças por outro cego levado.

Aquele palco na certa/Sobre uma estante careca.

De tudo tão desprovida/inquirindo a intriga.

Chorando a nova novela/No alto de uma favela.

Entre a polícia e bandido/E o filho quase perdido.

No peito uma agonia/Que pela antena espia.

Todo o glamour da mentira/Nos becos pelas esquinas.

E o filho do seu “caroço”/Quer ir jogar lá na “Vila”.

A filha sonha acordada/Não sabe mais está grávida.

A mãe percebe e aflita/Vai lá pra fora e grita.

Seu grito surdo interno/entre o céu e o inferno.

Entre o olho e o caroço/O ódio e o remorso.

Entre um cigarro e a lua/Entre a TV e a rua.

Deus queira que aquele moço/Tenha no crânio-caroço.

O plug da consciência/E o lumiar da essência.

Leve pra casa alguns livros/Pra clarear sua estante.

E tire o pó de incertezas/E siga sempre adiante.

Compre chuteiras pro filho/E não aborte seu neto.

E grite junto com ela/E cure toda a seqüela.

E leve todos a praia/que à nova tarde ensaia.

Olhando o “Grande irmão”/Cantando a nova canção.

Honorato Falcon
Enviado por Honorato Falcon em 21/09/2007
Reeditado em 30/06/2011
Código do texto: T662447