O MOÇO E A TV.
O MOÇO E A TV.
E lá ia aquele moço/Com cabeça de caroço.
Por uma pista da praia/Que a nova tarde ensaia.
Nos braços uma TV/O grande irmão de um globo só.
Cego do olho, apagado/Quiças por outro cego levado.
Aquele palco na certa/Sobre uma estante careca.
De tudo tão desprovida/inquirindo a intriga.
Chorando a nova novela/No alto de uma favela.
Entre a polícia e bandido/E o filho quase perdido.
No peito uma agonia/Que pela antena espia.
Todo o glamour da mentira/Nos becos pelas esquinas.
E o filho do seu “caroço”/Quer ir jogar lá na “Vila”.
A filha sonha acordada/Não sabe mais está grávida.
A mãe percebe e aflita/Vai lá pra fora e grita.
Seu grito surdo interno/entre o céu e o inferno.
Entre o olho e o caroço/O ódio e o remorso.
Entre um cigarro e a lua/Entre a TV e a rua.
Deus queira que aquele moço/Tenha no crânio-caroço.
O plug da consciência/E o lumiar da essência.
Leve pra casa alguns livros/Pra clarear sua estante.
E tire o pó de incertezas/E siga sempre adiante.
Compre chuteiras pro filho/E não aborte seu neto.
E grite junto com ela/E cure toda a seqüela.
E leve todos a praia/que à nova tarde ensaia.
Olhando o “Grande irmão”/Cantando a nova canção.