Sois um vento que passa

Não tinha voz o menino da rua

Andava pela praça

Com sua mãe quase desnuda.

A roupa lhe davam sempre

Não durava duas noites.

Homens

Que não com açoites

Mas um sem fim de hipocrisia

Bradavam-lhe vozes

Como se dirige a um cão.

Não se digere senão ao ouvir a voz da rua.

O menino que anda a vida pelos cantos de hotéis

Que pede esmola.

Não sabe, enfim, quando chegará sua hora.

Não conhece o tempo, apenas suas marcas.

O amor

Em tantos desesperos

Nunca o entendeu

Talvez isso fosse de santo,

Pois não podia ser ateu.

Conhecia a dor

Sussurrava ao pé do ouvido da mãe.

Perguntava a ela se iria conseguir dormir

tanta dor,

Uma dor desgraçada, uma dor de dente.

Há quem se contente

Passe do lado e ri

Ri da dor de uma criança

Pra esse tipo de gente, no céu não há esperança.

Sopas e pães e roupas

Vivia no ciclo da agonia

Não sabia para o que vivia.

Sois um vento que passa, menininho.

Não é um bicho

Está mais para um anjinho

Com tuas vestes sujas e os pés ardentes de asfalto.

Com as tantas repetidas vezes que dormia ao frio

O rapazinho foi aos poucos se entregando

Já não corria mais

Não sorria

Não entendia a vida.

Aos braços de sua mãe,

Numa noite de chuva de Belém

Deitados em um papelão

Deu boa noite a ela

Fechou os olhinhos

E foi a voar.

Passou pelas nuvens

O ar gélido não sentia mais.

Estava vivo

Vivo como nunca

E Alcançou os céus,

Sentou ao pés do criador.

E chorando pediu pela sua mãe

A única pessoa que o amou.

Gabriel Meira
Enviado por Gabriel Meira em 22/04/2019
Reeditado em 18/08/2019
Código do texto: T6630011
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