Algarismos ordinários

Homem tão seco homem,

Tão engenheiro homem de interiores solos trincados,

Algarismastes tuas vastas auroras

Equacionastes escandalosos sóis poentes

Os reduzistes a ponteiros lineares.

Tão numérico homem,

onde foi que te (sub)traístes?

Se errastes nas tuas contas

Não deverias suicidar-se.

Homem tão finito em si

Em ser

De que maneira fantástica medirás

A infinitude?

Entrega-te, homem

À fragilidade que é o engano

do simples desprezar a resistência do ar.

Aceita, querido

Que tão exata quanto a vida - explosiva -

e o ódio mortal dos homens

É a fraqueza de tuas mãos somada à de teus baús corroídos

Que tentam conter e conter o insondável.

Homem de infinda estiagem calculada,

Desprezasses tuas resistências

Te surpreenderias com a exatidão da gravidade,

- da força gravitacional -

Que há na órbita dos corações,

Que há no giro das almas que ardem,

como esferas sobre seus pólos.