No País da bandeira verde o morro é vermelho
Anos atrás...
Acordei e tinha um jumento na presidência
e dos bueiros saiam ratos batendo continência
e por todos os lados papagaios repetiam suas frases
com suas bocas espumando e ódio em seus olhares
Patos amarelos batiam panelas
enquanto soldados de chumbo pintavam vielas
sangue escorrendo do morro igual cachoeiras
e lá embaixo se banhavam serpentes traiçoeiras
Vi urubu cantando e criança sendo fuzilada
as mães em desespero caídas aos prantos
vi a morte usando farda e sendo premiada
enquanto do alto do céu lamentavam os Santos
Ouvi que a fome não era real
e que ciência era balbúrdia
aqui ainda defendem um sistema desigual
justificando com a falácia da meritocracia
Nosso povo tava perdido, sem riso e sem festa
vivendo um pacifismo banhado em morte
o governo vendendo nossa floresta
mas não havia tempo pra que alguém se importe
não pense, trabalhe
Vi jorrar das torneiras da cidade o sangue dos inocentes
ouvi nas ruas dos jardins os chamarem de delinquentes
mancharam seus nomes, extinguiram sua dignidade
pra justificar tão vil e imperdoável atrocidade
Nossa bandeira deveria ter sido um caixão
estampado Luto
eles executaram o futuro da nação
e fizeram do ódio, um fruto
Brasil acima de tudo
pra esconder os corpos jogados no chão
Deus acima de todos
como se tudo resolvesse com oração
Nesse país, plantaram as balas
pras famílias colherem os corpos
a manhã é das lágrimas
e a Madrugada dos mortos