Sobre(vida) Negra

Esta poesia foi feita para homenagear um negro velho que avistei do meu escritório. Ele estava capinandoe à frente da casa do meu vizinho de frente. Parei o que estava fazendo, observei-lhe e abri uma nova página e saiu SOBRE(VIDA) NEGRA:

Negro velho levanta com as galinhas

faz o palheiro e pita;

nesta grita, caminha,

engole o outro negro e só.

Não tem pão-de-ló.

Pega a enxada;

as pernas inchadas,

vai pelos bairros.

Alguns a cara entorta,

batem a porta:

"Pode ser mais um pedinte,

e não quero ser ouvinte

desses com os pés no chão."

Acha um anjo, ganha um pão.

Pegou uma data,

se mata de tanto capinar

para o outro pão ganhar.

É tarde e a coluna arde.

Faz a caminhada,

não para perder peso

não é obeso;

chega no barraco,

leva comida pro prato,

compra arroz,

arrocha para o feijão,

trigo para o pão.

Azeite tem, ainda bem!

Frita um ovo.

Colesterol? O que escolher?

De novo espera o arrebol

e lá está ele

com suas feridas

as de dentro e as de fora

e vai embora

não dando mole para a vida.

Este texto faz parte do livro ETNIAS OLVIDADAS sob o ISBN 85-98598-20-8

Aldair Lucas
Enviado por Aldair Lucas em 03/10/2007
Código do texto: T679417