Carnaval curitibano

No meio da noite, um estouro.

E de repente outro.

E mais outro.

E outro, e mais.

Aos poucos nasce uma melodia estridente

em meio a um coral de gritos desesperados.

Eis a marchinha mais tocada no Carnaval curitibano

(e em outras épocas do ano também):

um misto de balas de borracha

com bombas de efeito moral

e ossos quebrando em meio a cacetadas.

É um ato gratuito de amor armado

àqueles que não são próximos.

Mas a culpa não é da polícia

nem dos políticos.

A culpa é dos foliões.

Afinal,

alguém pediu alvará para ser feliz?

Enquanto isso

aqueles que não quiseram participar da festa,

aplaudem o repressivo espetáculo

e não tinha como ser diferente.

Só a ponta da espada

para curar essa gente louca,

essa gente absurda,

essa gente que canta,

que dança, que beija,

essa gente que vive.

Por favor, alguém os avisa

que a vida foi feita para se morrer?

Rodolfo Kowalski
Enviado por Rodolfo Kowalski em 25/02/2020
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