MINISTÉRIO DO ÓDIO

Proclamaremos nosso ódio

Chaga aberta de orgulho e podridão

Ódio estampado, um ódio inoculado

O ódio à liberdade, à cultura, à educação.

Desfilaremos nosso ódio nas ruas

Como um homem com seu cão

Alimentaremos com sangue esse ódio

Um ódio tão nosso, quase de estimação.

Faremos comemorações e festivais

Pra dizer do mais profundo de nosso ser

Que nosso ódio é genuíno e fraterno.

Fabricaremos o ódio só por prazer

Sentiremos ódio da palavra justiça

Um ódio histriônico e contumaz

Capaz de erguer muros

Onde poderia haver paz

E depois de tanto ódio disseminado

(como a serpente que morde a cauda)

Teremos ódio de nosso próprio ódio

Um ódio do fundo de nosso coração

Destilaremos o ódio de nossa incapacidade,

de nossa cegueira, nossa limitação

Não é qualquer ódio banal

É um ódio de racista inspiração

Por fim, como medida última e necessária

Fruto de tanto perigo e horror

Será preciso decretar ódio a tudo e a todos

Sim, nosso ódio desinventará o amor.