A BOCA NÃO QUER CALAR

A boca não quer calar

Quer inundar no tempo

Seu verbo de justiça

Quer espalhar ao vento

Sua palavra de espanto

A boca não quer calar

Quer cumprir sua milenar

Função de boca

Quer gritar aos quatro cantos

Que cantar um canto

Quer denunciar os erros

Quer pedir socorro

A boca não quer calar

E nem pode!

A boca deve continuar

Se pluralizar

em milhões de bocas

se entrelaçar

por entre os infinitos

se materializar

em vozes esquecidas

A boca não pode calar

(doa a quem doer)

Precisa urdir nas sílabas

A expressão da realidade

Precisa romper as fronteiras

Que o silêncio impõe

A mudez esconde a maldade

Precisa tecer na carne

O seu testemunho de vida

Sua febre de igualdade

A quem interessa

A boca emudecida?

A quem interessa

A imprensa censurada?

Na ânsia da verdade

A boca converterá

Todo ódio em linguagem

Nunca calada!

É a boca que transforma

Todo medo em coragem

A boca é a arma do homem

Não, não cale a boca!