Marielle

Marielle

Alexandre Santos*

Ela não é de esmorecer ou desistir

Mesmo cansada, faz tudo e promete fazer muito mais.

Especialmente agora, diante do Grande Retrocesso,

Da festa das moscas, dos chacais e dos urubus

Da agonia intencionalmente perpetrada ao bem e aos bons

Como todos, ela viu a injustiça crescer

[Como todos, ela viu] a pobreza se alastrar

[Como todos, ela viu] a insegurança tomar conta do País

[Como todos, ela viu] a doença voltar sem cura

[Como todos, ela viu] a tristeza fechar semblantes

Tinham desmoralizado o voto, mas ela iria restaurar a democracia

Tinham destruído sorrisos, mas ela iria reimplantar a alegria

Tinham criado um mundo de castas, mas ela iria desatar as amarras

Tinham criado o inferno, mas ela iria estabelecer o paraíso

Tinham dado tudo para poucos, mas ela daria muito para todos

Na luta renhida, os brutos fingiam não ver o surgir das flores

e teimavam apagar luzes, sufocar a música, fortalecer o mal,

Tentaram até, com quatro tiros, calar a sua voz

Mas, não se mata uma ideia e, ao invés do silêncio, um eco universal espalhou a sua luta

E a vida ressurgiu, refazendo a Esperança do sorriso advindo da Paz e da fartura.

Homenagem a Marielle Franco, cuja luta ganhou maior dimensão depois dos tiros que tentaram ceifar a sua voz

(*) Alexandre Santos é ex-presidente da União Brasileira de Escritores e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural