Na pele do lobo

o ano inteiro de templo,

chutando cachorro na saída.

desdenhando do mal tempo,

enganando-se com a vida.

furando fila e achando graça,

recebendo propina sem receios,

sorrindo da alheia desgraça,

devorando sonhos, devaneios.

o ano inteiro em sua igreja,

orando pelo bem de sua matéria.

poder é tudo que se almeja,

fechando os olhos para a miséria.

abraça o irmão e sem pena

rouba-lhe a carteira vazia.

não satisfeito, repleto de heresia,

o maltrata, o condena.

o ano inteiro clamando por jesus,

brincando com a força da fé,

ajoelhado aos pés da cruz,

aliciando crianças, batendo em mulher.

uma oratória replena de insensatez

e se confirma nas suas ações.

uma história galgada de sordidez,

nos gélidos e sombrios porões.

quando se finda o ano

resolve despir-se do lobo,

decide livrar-se do profano

e aparece bonzinho com cara de bobo.

presentes pra todo mundo,

abraços pra lá, beijos pra cá.

e num repente, num segundo,

o povo já esqueceu: quem será?