O verdugo estadunidense

Em uma noite sem culpas, conversamos, sem nos darmos conta de que sonhos, molhavam as estrelas no céu.

Era uma energia hollística que se desprendia, quando ela falava nas pedras de quartzo e de uma juventude que erigia valores ao som de violões latino americanos, na madrugada, saudando a proximidade da chegada do sol, sem presságios despertados pelo ayahuasca.

Falávamos sobre os mais diversos assuntos, ainda que geograficamente distantes, como os meditadores durante a atenção plena, à beira das águas que tocam o secreto pudor, nas cachoeiras da Chapada dos Veadeiros.

Ofuscávamos-nos, como se às escondidas, estivéssemos irmanados nas cores mágicas das auroras boreais, naquela nossa prosa de Outubro.

Dividimos preocupações sobre esse nosso mundo pandêmico, economicamente caótico, emocionalmente exaurido, sob o signo da violência fascista.

Falamos dos artistas perplexos, que não conseguem com os seus versos íngremes; alcançar a cidade louca por média e pão com manteiga, outra forma de afeto.

Poetas esfarrapados, sobreviventes de manifestações anti nucleares, telepaticamenre nos mandavam mensagens insanas, sobre os negócios da família bin Laden, com bush pai, filho e o espírito de porco.

O amor dessa mulher pelas artes, pelo regozijo libertador que provoca o canto mambembe da linhagem de Zumbi, me contagiou.

Reinaugurou o meu riso, por onde me era mais preciso, uma empatia Walt Whitman, tocou com os lábios, o alto do céu.

Estivemos de mais dadas, solidários com os explicáveis soluços das aldeias indígenas.

Ela se despediu me dizendo que não há heróis nessa história, além de nossos irmãos latino americanos, que se levantam de debaixo dos coturnos do verdugo estadunidense.

Argentina, Bolívia, Chile, quando seremos nós Brasil?

Daniel Barthes.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 08/11/2020
Código do texto: T7106918
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