O espetáculo do Brasil

Ao contrário respira a plateia

bate palma, vibra

com a exposta artéria.

Era bandido, vagabundo,

da favela?

Enquadrado na tela

era mais uma matéria,

uma chamada sensacionalista,

um vídeo e umas curtidas...

O chefe aprovou o espetáculo

e riu da tragédia:

Fatalidade - disse –

Racismo – não existe –

e ficara por assim dizer

coisa daqui!

Anos atrás mataram um cão

usaram uma barra de ferro

ah quanta tribulação!

 

Meses atrás um homem morreu

e com guarda-chuvas foi coberto

ah quanta normatização!

De todos o cão foi mais lembrado,

inocente eles disseram, indefeso,

e de tanta condolência e comoção

pensei até que fosse gente.

Aqui a plateia respira ao contrário,

tira seus ódios do armário

e pra baixo do tapete a lama

de Brumadinho a Mariana,

o João Alberto e Amarildo,

o Rafael Braga,

o massacre da Candelária

carne de preto é carne barata

que o presidente mede em arrobas

e que escorre na veia aberta

da nossa triste descoberta.

Nós somos muitos

e muito pouco...

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 20/11/2020
Código do texto: T7116653
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