O hospedeiro humano

Tu que és humano, e tens

teu armazenamento de leis,

convívios e ideologias.

Tu que se faz estalagem

de amores incertos, dores

e conflitos.

És máquina de sonhos e das

mais profundas utopias que

vives a projetar em outrem, ou em

qualquer plano distante.

És belíssimo produto de evoluções

milenares, experiências e arte.

Em tua anatomia, carregas o poder

de gerar ideias e gozar da natureza.

Todavia, se dispersas dos teus sentidos e sangras frente a um espelho que não lhe traduz.

Enxerga a si mesmo sob a retina disforme de padrões que nasceram antes de ti; ora tão incabíveis para a complexidade que carregas.

Idealiza a enfermidade plástica e se faz de instrumento para vontades que não são tuas; e ainda pensas com os neurônios da servidão, seja ela qual for.

Vives por apunhalar qualquer existência que não estenda a tua própria.

Não sabes que tu mesmo carregas diversidades que não soube despertar?

Por acaso, sabes que existe um mundo além de ti? E que teus pensamentos talvez não sejam teus?

Tuas retinas politizadas são meros símbolos partidários que matam tua animalidade política.

E tu vives a reproduzir em tuas relações, tudo aquilo que fizeram de ti, como um mártir crucificado ao passado.

E já não enxergas a materialidade real do mundo em suas facetas injustas; já não enxergas além de sua hospedaria, Ó anfitrião da opressão.

Abrigas o protótipo da subordinação e cala-te ao reinado de um silêncio que te aniquila, pois és eterno estagiário das monarquias que se abrigam no teu ser; são elas, todas as abstrações que contorcem tua voz e te fazem hospedeiro do sadismo espiritual.

Conheça tua estalagem para que despeje o parasita que desumaniza a voz que dorme em ti, e nutre-se dos detritos da escravidão.

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 22/11/2020
Reeditado em 22/11/2020
Código do texto: T7117557
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