O hospedeiro humano
Tu que és humano, e tens
teu armazenamento de leis,
convívios e ideologias.
Tu que se faz estalagem
de amores incertos, dores
e conflitos.
És máquina de sonhos e das
mais profundas utopias que
vives a projetar em outrem, ou em
qualquer plano distante.
És belíssimo produto de evoluções
milenares, experiências e arte.
Em tua anatomia, carregas o poder
de gerar ideias e gozar da natureza.
Todavia, se dispersas dos teus sentidos e sangras frente a um espelho que não lhe traduz.
Enxerga a si mesmo sob a retina disforme de padrões que nasceram antes de ti; ora tão incabíveis para a complexidade que carregas.
Idealiza a enfermidade plástica e se faz de instrumento para vontades que não são tuas; e ainda pensas com os neurônios da servidão, seja ela qual for.
Vives por apunhalar qualquer existência que não estenda a tua própria.
Não sabes que tu mesmo carregas diversidades que não soube despertar?
Por acaso, sabes que existe um mundo além de ti? E que teus pensamentos talvez não sejam teus?
Tuas retinas politizadas são meros símbolos partidários que matam tua animalidade política.
E tu vives a reproduzir em tuas relações, tudo aquilo que fizeram de ti, como um mártir crucificado ao passado.
E já não enxergas a materialidade real do mundo em suas facetas injustas; já não enxergas além de sua hospedaria, Ó anfitrião da opressão.
Abrigas o protótipo da subordinação e cala-te ao reinado de um silêncio que te aniquila, pois és eterno estagiário das monarquias que se abrigam no teu ser; são elas, todas as abstrações que contorcem tua voz e te fazem hospedeiro do sadismo espiritual.
Conheça tua estalagem para que despeje o parasita que desumaniza a voz que dorme em ti, e nutre-se dos detritos da escravidão.