[ sem título #32 ]
I.
então fomos votar,
porque não é facultativo.
então fomos votar,
porque é um exercício
de cidadania;
sem peso, aliás.
II.
não, não creio no voto.
não, não creio numa
representatividade.
não, não creio num dito
representante
que pensará no povo
antes, e nunca no próprio
bolso
— o possível desvio,
a possível conduta imoral,
o possível
"não tenho nada
a declarar.".
III.
então fomos votar;
eu não sabendo em quem
e nem
para quê.
IV.
fomos votar na antiga escola,
pela segunda vez,
posto que
segundo turno.
V.
numa antiga escola,
nem todas as pessoas são antigas,
apesar d'eu'não encontrar
nenhuma familiaridade
nos muitos rostos que iam
e vinham.
VI.
numa escola antiga,
embora da pintura de peixes e flores,
eu nada me lembre,
por isso não cometer o erro
— ou o possível acerto — de dizer
que a superfície era nova,
quando olhei aquela sala.
VII.
no caminho da caminhada
à escola antiga
— ao voto —:
as ruas, os cartazes de
candidatos pregado às grades
das casas, os cães, a feira,
as pessoas, os muitos carros,
como se o ir votar, em nada
interferisse.
como se ir votar, fosse mais
do mesmo.
VIII.
não, não creio no voto.
o meu desencanto
foi cedo.
depositar a minha esperança
em alguém que desconheço,
e que quando conheço,
me pede esperança,
me causa
essa indiferença
não-pejorativa
à quem quer
que se candidate
prometendo
mudança.
IX.
"acabaremos
com a velha política!".
"respeitaremos
os anseios do povo!".
"melhoraremos
a saúde e a educação!".
"traremos
mais empregos
e aumentaremos o mínimo
salário mínimo!".
"pois nós sabemos
o que é melhor
para a população cuiabana...
para a população mato-grossense...
para a população brasileira!".
"vote em mim...
vote em mim...
vote em mim!".
X.
por que caímos
em velhas armadilhas
em tempos de eleição?
por que vendemos
o voto
e falamos disso
com tranquilidade,
e às vezes
rindo?
XI.
...
XII.
independentemente
de quem ganhe,
já perdemos.