QUEM SÃO OS POETAS?

Poetas todos

aqueles que subscrevem

o poema

com o pulso cerrado em flor

em que lateja lépido sentimento

e amanhece no lírico encontro

do racional com o impulsivo mote

do ligeiro sonho com o inquieto labor

Poeta também

aquele que o lê e num lapso

comemora fraterno o alegre instante

do eterno que se comunica ao fugaz

do belo que se frutifica na comoção

do cético que permanece amoroso

do poético que se anuncia vigilante

Poetas todos aqueles

que ainda podem negar

esse verde lábaro que flagela o amor

que nos servem com néscio aguardente

e que fermenta espúrio um outro país

onde o feio é a lição aos meninos

e o furto da alma, a arma do senhor

Poeta aquele

que reúne os solitários rapsodos

no acervo do que é mais livre canto

em vozes que se entrelaçam lúdicas

na sutil moradia do necessário verso

filete de água em cristalina imagem

coletivo texto de mais leve encanto

Poetas todos

que comigo não se calam

às atrocidades que o sistema alimenta

o tráfico que retira sonhos da criança

o incêndio que se irradia na mata

antigo exórdio que mata a criação

pelo envenenado capital que só aumenta

Poetas todos

aqueles que nos brindam com palavras

passadas ou as cinzas quentes do agora

voz daqueles que ainda se matam por amor

raiz daqueles que sempre vibram no cantar

tez daqueles que se deságuam no deserto

e são cantil que escoa a água doce na flora!