Porque não vou para Pasárgada

Hoje me lembrei de Paságarda ...

do rio, da bicicleta,

do burro bravo, do banho de mar,

do pau-de-sebo,

da mãe d’água....

enfim, da felicidade na simplicidade...

Quase tive vontade de ir pra lá.

Mas, meu chão é bem mais duro,

minha terra é compartilhada

com pobres, ricos,

pretos, brancos,

índios, pardos, amarelos,

nativos, refugiados...

e é aqui que sou feliz.

Não quero que Rosa me conte histórias,

quero que lute por justiça,

que busque mais igualdade,

solidariedade, amor e compaixão.

O mundo onde vivo é um lugar de perigo...

onde uns valem mais que os outros,

dinheiro no bolso compra tudo,

compra inclusive

o que não se pode vender.

Compra honra,

compra palavras,

compra mentiras

que se tornam verdades,

as mais absolutas.

Alguns são presos por cometerem erros,

outros porque atravancam

o caminho de poderosos,

são “pedras no meio do caminho”.

Uns moram em mansões,

fazendas a perder de vista,

outros ocupam morros, pontes,

em barracos que podem cair

com um simples sopro do lobo mau.

Ai meu Deus!

Acho que seria bem melhor ir pra Paságarda,

mas como deixar

tudo isso aquipara trás...

as lutas, os desafios,

as conquistas

e o que há de se conquistar...

Em Pasárgada tem um rei.

Certamente é um rei justo,

bem diferente dos reis daqui.

Aqui os reis são loucos,

desajuizados, incompetentes, negativistas...

Mas coitados

tudo o que fazem

é em nome de Deus,

da família e da moral.

São amigos de outros reis,

bem mais fortes e poderosos,

que os humilham e nos humilham,

repudiam o nosso lugar.

Os reis daqui pensam que nos iludem

com fake News ou ti ti ti...

Mas, nós, seus súditos, não somos tolos...

Embora em menor número,

não dormimos em serviço.

Nossas novelas são bem reais...

E por mais que não pareça,

nunca vamos desistir.

Então afirmo com convicção:

não vou embora para Paságarda,

porque aqui é o meu lugar

e é aqui que quero ficar.

Nalia Lacerda Viana, 26 de dezembro de 2020