TODO DIA NASCE UM CRISTO
Todo dia nasce um Cristo,
Um Cristo criança vem ao mundo,
Já condenado,
Preto, pobre, favelado,
Com o seu corpo marcado
Pela chaga do preconceito.
Todo dia mais um Cristo
Recebe uma cruz pesada,
Por sua condição distinta
De ter outra afetividade.
Toda hora mais uma coroa,
Repleta de espinhos afiados,
É posta em mais um Cristo,
Na forma de uma mulher.
Todo instante mais um Cristo
Perde o sustento da casa,
Perde o pão para seus filhos,
Perde a escola e a dignidade,
Pois, sem matéria não há vida,
Como dizia o antigo filósofo.
Todo dia, toda hora, todo instante
Um Cristo é sufocado pelo sistema vigente
Pela força do dinheiro não distribuído,
Pelo falso profeta que mente
Dizendo falar pelo Cristo.
O Cristo veio pelos diversos Cristos,
Mas, estes, invisíveis,
Nascem todos os dias,
Morrem a todo momento,
Padecem neste mundo cão.
Todos os dias, milhares de Cristos vagam pelas ruas,
Em busca de um alento,
Em busca de esperança,
Em busca de uma vida de bonança,
Negada pela exclusão,
Negada pela exploração,
Negada, às vezes, até mesmo, pela religião.
E os cristãos, mirando o Céu,
Na espera da vinda do Cristo,
Esquecem de ver os Cristos irmãos.