Miolo do Pão
Eu queria fazer uma poesia
Que virasse pão,
Depois voasse pelo céu
No bico de um passarinho
Caindo por entre as pernas
Magras daqueles meninos
Que na vala rala do esgoto em vapor
Pulam, rolam se esfolam
E fazem desenhos que parecem flor
Eu queria fazer uma poesia
Que virasse pão,
Depois fosse saboreada
Feito gostosa marmelada
Ou iguarias, de finos sabores,
Como se acham nas mesas
Daqueles senhores.
Eu queria fazer uma poesia
Que virasse pão,
Mas eu não faço milagres!
Estas rimas tão graves
São rimas tão tolas
Não despertam protestos
Nenhum manifesto
E nada se faz.
Não é uma obra prima
Não acaba esta sina
Enquanto houver fome
Não haverá paz.