Ivo não viu a uva

Vi, ainda hoje

O sangue correr fora das veias

Jorrando à altura das nuvens

Ainda hoje estava quente

Presente nas discussões vulgares

De sangue fervido, sangue pisado

Rá! Sangue de mentira, fabricado

Vi, ainda agora

O fígado ser promovido à chefia

Para agonia do pobre cérebro

E a boca que só rumina, rumina

O pasto que o diabo amassou

Recita versos de verborreia

Mil vezes maldita prosopopeia

Onde já se viu?

O absurdo embaralhar o sentido

Das palavras fracas no dicionário

Colonizando os verbetes selvagens

Mudando-lhes a parecença, a crença

Salvando-os da barbárie de si mesmos

Louvada seja a nobreza de impostores

Veja você o que vi...

As dores todas embaladas para presente

Esperando a hora de chegarem ao destino

Quer ganhar? Cante o hino, finja de morto.

Cascalho. Cucaqueospariu. Ganhou, viu?

Na caixa: milágrimas e chega de mimimi

Chorar não é preciso. Urge sufocar!

Ivo não viu a uva

Nem a viúva, nem os filhos deste solo

Aqui, não tem colo de mãe gentil

Tá com azia, amada? Toma Estomazil

Bom para arrependimentos tardios

Para os brios de decência perdidos

Isso, trezentos mil frascos. Beijos

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 23/03/2021
Reeditado em 23/03/2021
Código do texto: T7213657
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