Salém

Maria nasceu num remoto vilarejo.
Cresceu, mudou-se para a cidade.
Não tendo sorte de ser enfermeira,
Tornou-se parteira nas proximidades.

Pela profissão, foi escarnada
Pelos nobres. E teve inimigos.
Virou mendiga, ficou sem abrigo.
E arranjou duas verrugas:
Uma no nariz, outra pelo umbigo.

Certa noite dormiu na calçada dum casarão,
Onde havia alguém em gestação.
No outro dia, natimorto nascera, então,
O bebê, primogênito do patrão.

Culparam Maria pela ocasião.
Acusaram-na de ser bruxa, irmã do Cão,
E de trazer para a casa a maldição.

E Maria morreu queimada,
Em pública exibição,
Por ter sido parteira,
Por dormir no chão,
Por ter verrugas...
Por ser Maria e não ser João.


WILLIAM, Jardel. Salém. Em: Poemas diversos para ler à noite: e não conseguir dormir. Teresina, PI: Ed. do Autor, pág. 47.

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