Poética - Medusa

Nas várzeas sombras que se enroscam em nossa luz e projetam-se nas paredes do tempo, engendram-se as serpentes da sordidez humana, e junto a elas, a languidez viscosa do fruto criativo da vida.

Sob a aurora, todos tendem a reprimir as sombras que serpenteiam o espírito humano, fazendo-as fervilhar ainda mais nos cárceres da mente já envenenada.

Doravante, nas brasas do poente o sol se dilui, e a lua, tal como um ninho de pestilências, desvela o reflexo dos dramas sepultados no negrume dos nossos crânios.

Nessas cavernas profundas, adormecem todos os mistérios celestes da criação, e na tentativa de que a nódoa da alma se desfaça; muitos são os que procuram ilusoriamente purifica-la.

"Os amordaçados pelo falso moralismo, estremecem ao fitarem o próprio ninho de serpentes e tentam extirpa-las, cuspindo-lhes a vileza de dentro para fora.

Ao destilarem o veneno das inquisições diárias, eles plasmam a substância da própria monstruosidade em outrem.

Transformando a si mesmos em esculturas do próprio medo.

E quão profundos são os olhos daqueles que refletem a vida em sua forma mais pura; são mandalas escuras que sublinham o reflexo

pútrido dos escravos da hipocrisia.

São abismos que se nutrem com as serpentes que sufocamos em nossos jardins estéreis.

São os espelhos das nossas limitações."

O que é o preconceito se não uma confissão da nossa própria miséria?

Uma tentativa de exorcizar no outro, aquilo que jaz entranhado em nós.

- Letícia Sales

Instagram de poesias: @hecate533

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 22/08/2021
Reeditado em 21/05/2023
Código do texto: T7326245
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