[ sem título #39 ]
estranho te amar neste tempo,
onde as guerras mudam de pele,
e a paz, é uma palavra distante.
assim como é estranho
estar lúcido à loucura deste país
à deriva.
e o amor, parece tão pouco
para tanto acontecimento,
que os gestos, se calam.
e o corpo se revolta entre trovões;
e busca consolo na chuva;
porque há muito
adiamos nossas lutas
e optamos por cair na demagogia
e na idolatria.
hamelins nos conduzem à ruína dos
direitos e à queda da república.
porque seduz o canto das sereias
quando se está num barco prestes
a afundar.
e não nos damos as mãos,
nem arremessamos boias.
empurramos, e rimos.
porque a humanidade
— o lado humano —,
lentamente se perde
com o exemplo
que nos é dado
acima de tudo.
*
por isso, estranho,
se te amo
neste país,
estando
neste país,
sobrevivendo
neste país,
onde nos mandarão
— a qualquer momento —
à cuba.