FOME

O POETA E A CHUVA

[Lembrando de Manuel Bandeira

e Machado de Assis, meus mestres]

A chuva fina cai sobre

a fria cidade.

Um poeta conta

os pingos da chuva.

Na verdade,

arquiteta um plano de fuga

para um outro planeta,

um planeta longínquo,

um planeta onde o futuro seja possível

e que não tarde a chegar.

Impossível contar

os pingos da chuva.

Ele arremessa, então,

os seus versos livres

à chuva,

certo de que sentirão de perto

“o cheiro do ralo”.

Como acabar com a fome no mundo?

O que fazer para alimentar

seres humanos

que procuram comida

no lixo?

O poeta sonha

com outro mundo.

O poeta está louco.

Qualquer dia

o internarão num manicômio,

na Casa Verde, talvez,

na vizinha Cidade de Itaguaí.

NELSON MARZULLO TANGERINI

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 11/11/2021
Código do texto: T7383037
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