(Sobre) Vivência

Cedo da manhã,

guiado por sua sina involuntária,

sufocado, num ônibus lotado,

ele sonhava acordado.

Seus olhos já imaginavam o almoço,

que talvez ele nem comeria.

Ao meio-dia, frente a um prato de sobras,

pensava nos minutos finais do intervalo,

os quais consumiam seu cérebro.

Ao seu trabalho a tempo retornaria?

Ao fim da tarde, sua coluna doía

e clamava por seu travesseiro macio.

Suas mãos já não mais o obedeciam.

Tarde da noite, em sua cama, seu corpo jazia;

mas sua mente em provocá-lo insistia:

sonhava com o ônibus lotado do outro dia.

Ao seu lado e de toda sua descortesia,

amparada por um travesseiro terno,

repousava sua esposa vazia.

No quarto à frente, sem um abraço do pai,

Sob o cobertor do abandono,

seu filho mais uma vez dormia.

Jardel William
Enviado por Jardel William em 29/12/2021
Código do texto: T7417561
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