Equilíbrio

Quando deixei minha ingenuidade, então encontrei a mim.

Na selva cinza, de vidro e aço, há em tudo equilíbrio.

Não mais predadores do que presas, não abundância nem carência.

Se há fome, há alimento. Se for doença, tem tratamento.

Só não estão no mesmo lugar ao mesmo tempo.

Vi a justiça me sorrir de volta suas aprovações.

Foi quando lhe flertei com o piscar de um olho.

Então entendi aquela donzela, por detrás da venda, fazendo distinções.

Caridoso, ajudei-a a calibrar sua balança de pesos incertos.

O peso do meu trabalho é este, o do outro é aquele.

Foi na sociedade, vestindo suas roupas, que encontrei a mim.

Agora asseado, de banho tomado, perfumado de moral e com hálito de ética,

Pude encontrar equilíbrio de consciência, enfim.

É justo o meu ostentar;

É validado por meu trabalho onde vou para jantar;

Nada ganhei de bandeja, não tenho esmola pra dar!

Parem de me importunar, vão para outro local sofrer!

Vida melhor é possível, basta o cidadão querer!

No capitalismo não há chance de perder!

Alguém para crescer precisa de muito trabalhar!

Não tenho como os problemas do mundo solucionar!

Parem de me incomodar!

Quando perdi minha humanidade, então tornei abjeto a mim.