Ópera da guerra que não venci (As flores continuam de luto)

Ópera da guerra que não venci

(As flores continuam de luto)

Caminho por entre um campo minado,

Entrincheirando-me entre as explosões,

Bem no meio de um fogo cruzado,

Observando os bombardeios dos aviões...

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Vejo prédios queimando, outros tombando,

E blindados desfilando nas ruas

Há pessoas mortas, outras chorando,

E balas penetrando em carnes cruas...

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Perdi minha identidade para o medo,

Mas isso não é segredo, pois não sei fingir

E ele, não me abandonará tão cedo,

Mas esta guerra, também me ensinou a mentir...

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Pois luto com um inimigo que não é meu,

Não sei quem ele é, não o conheço

Por isso perdi minha fé, transformei-me num ateu,

Não acredito em Deus, e isso não é um bom começo...

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Meu amigo tombou ao meu lado, ele não voltará,

E as flores não estão de luto por sua memória

Pergunto-me, a próxima vítima quem será?

Abatido por uma bala, em sua trajetória...

~

Vejo que a torre da catedral permanece em pé,

Porém só sobraram escombros onde antes era o altar

Talvez alguns soldados, seduzidos por sua fé,

Resolveram que a torre e sua cruz deveriam poupar...

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E é de lá que se ouve uma melodia em rancor,

Como uma ópera, da guerra que não venci,

É uma canção, numa voz carregada de dor,

Numa emoção, que mal cabe dentro de si...

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Deveras, ele é um autocida como eu,

Ao ver o lugar de seu batismo desmoronado

Ou talvez com as imagens quebradas se comoveu,

Ou quem sabe como eu, sente-se um derrotado...

~

Pois por todos lados, há corpos dilacerados,

Há vidas que partiram tão bruscamente

Sinto-me como se eu fora pelo diabo enviado,

Para arrancar a flor pela raiz, e matar a semente...

~

Mas a guerra não é minha, o inimigo não é meu,

Mas o senhor da guerra, com isso sê satisfaz

E me manda para o front, pois o assassino sou eu,

Fazendo-me lutar por um falso epíteto de paz...

Marco Ramos
Enviado por Marco Ramos em 22/11/2005
Código do texto: T74690