Por que choramos

Eu choro todas as noites

Choro quando em Atocha um espanhol é morto num trem

ou quando um menino palestino lança uma pedra pra dizer que

não quer:

Humilhação

subordinação

exploração

Eu choro todas as noites e me recordo das vezes sangrentas do Ira

E da ira dos povos do Kosovo, kurdos, Albaneses. Sérvios;

Maiorias ou minorias que não querem:

Humilhação

subordinação

exploração

Eu choro todas as noites

Miro minhas lágrimas pra longe do preconceito, mas não consigo tirar a bala da agulha

que quer costurar o negro nesse quilombo que não se nega à luta porque

também não quer:

Humilhação

subordinação

exploração

mutilação

pregação

danação

azaração

esculhambação

um Bush babão

meio Sharon canastrão

e toda uma ONU

sem ação.

Eu xingo, passeio na Paulista com executivo e diarista.

Dou até porrada, se assim o descalabro provar necessário.

Grito

replico

aviso

mobilizo

e quando, me canso me dou um sorriso

Isso me faz ser

Pois nada preciso ter

E esse sou eu e eu choro todas as noites.

Guiberto Genestra
Enviado por Guiberto Genestra em 24/11/2005
Código do texto: T75545