O POBRE

O pobre nada tem porque é pobre

Vê-se quase sempre sem vintém

Sem ter no bolso um cobre

Falta-lhe tudo, o pão para comer

A roupa e a coberta pra se cobrir

Uma cama não tem para dormir

O pobre só possui a triste vida

Que Deus por engano lhe deu

Se é católico é carola

Se não vai a missa é ateu

O pobre nada tem que seja seu

Possui o dia e a noite

Porque não lhe pertence

Pois é de Deus

Nem nome o pobre tem

O João é Joça

O José chama-se Zé

O Antonio é Tonho

E a Doroteia é Doca

E não se senta, fica em pé

Vive mais de cócoras

Não tem cama, deita-se no chão

Cochila em pé, vive como um cão

A casa é um rancho de palha

Esburacada e suja

Tendo nascido do pó

O pobre não tem terra

Quando trabalha é invejoso

Quando está doente é preguiçoso

Se tem coragem é perverso

Se não briga é medroso

Chamam-no de tirano

O pobre não tem nada

É um trapo humano.

Autor: Bolívar Valle Ferro

Agradeço aos familiares do saudoso Bolivar Ferro que

gentilmente autorizaram a divulgação desse belíssimo poema.