Deus Mercado

O mercado é a face

que torna ao oposto

quando vê o rosto

de quem não o tem.

O mercado volta-se às ações

Para esbarrotar os sócios

Ao pobre povo sobram os ossos

E moléstias aos milhões.

O deus Mercado é ímpio

Alimenta-se de costelas

Relevadas em peles finas

Dar de comer não o excita.

Mercado de trabalho, um hematófago

Zumbe nos ouvidos às seis da manhã

Suor e sal ocular, a moeda de troca

Ralar a carne até cerrarem o sarcófago.

A bolsa ontem caiu

A bolsa hoje subiu

A bolsa sobre as clavículas

permanece vã.

O mercado, acima do arranha-céu

Cospe na testa dos arranha-chãos

Delira e goza em dígitos milionários

Enquanto os pobres protozoários

contam os níqueis que saltam

de seus sonhos destroçados.