Rancor

Dragão, demônio, gênio mal da minha mente,

e muitos outros nomes mórbidos lhe dão.

Mas eu conheço o pobre ser intimamente.

Vive a ferir, parasitar meu coração.

Subterrâneo tão ruim no fundo da alma,

sórdido pântano, aqui meio ao lodo,

o resultado infeliz de cada trauma,

a reação de quando digo “só me fodo”.

Ele se alimenta da inveja, da vergonha.

São muitas mágoas, há receio e também medo.

Só pesadelos, desiludido, nem mais sonha.

Vive escondido, bem guardado, meu segredo.

Rosna feroz, solta grunhidos, vocifera.

É tenebroso, algo vil que não demonstro.

As multidões podem chamar de besta-fera,

mas, com carinho, só eu chamo de meu monstro.

Alucinações, uma miragem ou vertigem,

mas, simplesmente, pode ser falta de amor.

Por mil razões, ninguém mais sabe sua origem,

Porém, seu nome, todos lembram: é rancor.