Natal, falta de conexão

Ganhei uma bola colorida em um antiquíssimo natal

era uma raridade, só durou uma hora, única

O Chicão chutou, acertou a cumeeira do rancho

pau a pique do sertão

e lá ficou por dias no alto e murcha

exposta, Natal sem sorte.

Os anos passaram e com tempo pude entender

Natal não é magia é uma cria

desta gente consumista, exibida

e a data foi desviada da função.

Todo Natal tinha festa, presentes

era uma esperança, talvez uma bola

tinha nono e nona, tios, pais, primos e irmãos

Amigos, parentes

Hoje não, perdi a conexão.

A crença é ilusão, muitos deles partiram

outros não, continuam por aí

apegados aos panos, mesa farta

alegres por fora,

vazios e indiferentes por dentro

Enquanto o filho do vizinho chora

sem leite, sem teto, descalço, sem pão.

Ostentam até o que não tem

bebem, comem empanturram-se

e as vezes distribuem migalhas

para apaziguar a consciência

filantropos de ocasião, e oram rezam

alma lavada, quem sabe salvas

mas continuam cegos, não enxergam, não entendem

que este dia deveria ser de reflexão, de partilha, compaixão

amor ao próximo com ênfase, corrigir as mazelas

contribuir, agir com justiça, fraternidade, solidariedade

Ah Natal! Não dá mais!

Não tenho conexão.

Luiz Carlos Zanardo
Enviado por Luiz Carlos Zanardo em 26/12/2023
Código do texto: T7962217
Classificação de conteúdo: seguro