Prédios Predadores
os prédios da cidade se digladiam
a favor dos ventos que borrifam
os jardins e as praças
com a inconstante aspereza
dos cheiros das mulheres à toa
e elas tentam purgar a alma
e elas consomem todo o fervor
do sabor dos homens
que compram e vendem
a cidade
que morre calorenta
acorrentada às montanhas
futicando os olhos das mulheres
com os estilhaços dos prédios
depois da luta
vencidos
e elas madraçam seus corpos
e elas vampirizam as crianças
que plicam as placas dos sorrisos
que rubificam as peles queimadas
e a cidade as engole em goles de sangue
e a cidade se apavora
os homens choram
as mulheres rondam
e as crianças deixam de brincar
pois a noite não mais estréia
suas estrelas quase apagadas
de vergonha e de rancor
e o motor do mundo polui a cidade
e ela regurgita suas palavras
pelas bocas dos becos sem ecos
tentando decifrar as enfermidades
os tormentos dos filhos dos homens
que se sujam
que se lambuzam
ladeira abaixo debaixo do tapete
pensando nos furos
que os parafusos vão deixar
já que os vermes precisam respirar
e a cidade sufoca
de sua garganta
as mulheres saem nuas para o trabalho
e os homens visualizam
o que o futuro não vai ser
um grande ser que permitirá
que a cidade evoque seus espíritos
em um último atino de suicídio
para salvar as crianças
de serem homens e mulheres
de uma cidade sem crianças
somente prédios