Prédios Predadores

os prédios da cidade se digladiam

a favor dos ventos que borrifam

os jardins e as praças

com a inconstante aspereza

dos cheiros das mulheres à toa

e elas tentam purgar a alma

e elas consomem todo o fervor

do sabor dos homens

que compram e vendem

a cidade

que morre calorenta

acorrentada às montanhas

futicando os olhos das mulheres

com os estilhaços dos prédios

depois da luta

vencidos

e elas madraçam seus corpos

e elas vampirizam as crianças

que plicam as placas dos sorrisos

que rubificam as peles queimadas

e a cidade as engole em goles de sangue

e a cidade se apavora

os homens choram

as mulheres rondam

e as crianças deixam de brincar

pois a noite não mais estréia

suas estrelas quase apagadas

de vergonha e de rancor

e o motor do mundo polui a cidade

e ela regurgita suas palavras

pelas bocas dos becos sem ecos

tentando decifrar as enfermidades

os tormentos dos filhos dos homens

que se sujam

que se lambuzam

ladeira abaixo debaixo do tapete

pensando nos furos

que os parafusos vão deixar

já que os vermes precisam respirar

e a cidade sufoca

de sua garganta

as mulheres saem nuas para o trabalho

e os homens visualizam

o que o futuro não vai ser

um grande ser que permitirá

que a cidade evoque seus espíritos

em um último atino de suicídio

para salvar as crianças

de serem homens e mulheres

de uma cidade sem crianças

somente prédios

Carlinhos Pink
Enviado por Carlinhos Pink em 04/12/2005
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