QUINTETO TREVOSO

Na madrugada, fico a ouvir nenhum barulho,

e há algumas entidades aqui comigo:

a Dúvida, o Arrependimento, o Orgulho

e o Castigo (a este infeliz eu chamo amigo).

...

O silêncio é pesado, e nada vezes nada dizemos,

mas as palavras não são necessárias, enfim:

é nos olhos uns dos outros que nós lemos

avisos ignorados e mil reprovações sem fim,

e no final das contas a única certeza que temos

é que as coisas não vão mesmo ficar assim.

Quando alguém dá um mau passo, todos sabemos

que o Bem dirá "Não!" e o Mal dirá "Sim!"...

...

Não há sono, há apenas ansiedade e preocupação.

O nó é muito apertado, desfazê-lo será trabalhoso.

É madrugada, e somente o pulsar do meu coração

testemunha o clima tenso e o ar bem venenoso

que caracterizam a nossa lamentável reunião,

na qual foi selado o destino mais escabroso.

...

Um a um, despedem-se eles, e desaparecendo vão.

Novamente só, rogo a sombrios deuses o favor do sono.

Vejo o catre que me espera, horrendo, no frio chão,

para mais um resto de noite pleno de abandono.

...

Do quinteto, só resta agora minha triste figura,

insone e perturbada, entregue ao desmazelo.

Desabo no fino pedaço de espuma, que tortura!,

e entrego-me aos braços gelados do Pesadelo!

(Ao mestre Edgar Allan Poe)

~CMF~14/12/2013, 02:34 a.M.

CELSO MORAES
Enviado por CELSO MORAES em 14/12/2013
Código do texto: T4611221
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