Espiral de agonias


Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.
 
Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: “Que fantasia,
 
Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!...”
 
Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu!...

(Florbela Espanca - Torre de névoa)

 
Ser semelhante aos nossos lamentos, seja bem-vindo à reunião das almas torturadas.  Nossas almas são tristes.  A dor, que esperamos aumentar em nossas vidas, chegou.  Juntos, sofrendo em lamentos que nos fazem flutuar...

Ecos que fazem tremer as sepulturas, todos somos o despertar dos mortos.  Carregamos conosco as torturas existenciais;  somos os lúgubres gritos.  Oh, eterna pena!  Vagando no abandono, repelidos em fumaças...

Entre, aproxime-se dessa fumaça de almas que sofrem  em seus misticismos.  Vagas almas chorosas, voando em espirais, contornando o domínio das multidões.  Nós cantamos em gritos de agonia que ninguém ouve – não temos o socorro que tanto desejamos.

A música que leva nossas almas, tornando-as mais leves, são dores profundas; são lamentos que dançam no ar, sendo levados pelo vento,  para a imensidão...  onde o horizonte é um mar de sonhos perdidos, em construções transformadas em ruínas.

Ooooohh...  como agonizamos, como é grande a agonia de vagar por nossas ruínas!  E essas agonias ecoam em fumaças de lamentos, para além do horizonte, para uma melancolia infinita.  Sofrendo como jamais poderíamos imaginar, nossos lamentos deixam rastros de sofrimento por onde passamos.  Quem ouvirá nossos lamentos de dor se estamos nas trevas, eternamente?  Todos estamos juntos, formamos uma multidão que avança, voando nas canções melancólicas.  Elevamos nossos egos, elevamos...  lamentamos, e nossos lamentos transformam-se em canções.  Quem poderia entender?!  Somente temos a nós mesmos como consolo.  E nós mesmos somos a fumaça que se espalha pelo ar, arrastando as dores que nos acompanham eternamente.

Somos almas escravas, devotas da dor.  Acorrentadas em nossos próprios tormentos.
 
Sr Arcano
Enviado por Sr Arcano em 25/12/2013
Reeditado em 25/12/2013
Código do texto: T4625203
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