O DIA QUE EXISTI

Existiu a vida, existiu o amor, existiu ele.

E na vida, existiu a decepção.

E aqui, bem aqui, existe o cadáver de uma pobre criatura.

Eu existi.

Meu coração mastigado ainda ousou em pulsar.

Pareceu mero atrevimento, só insisti em sobreviver.

Como lepra a maldição tomou meu corpo, enquanto meus podres órgãos exalavam um odor fúnebre.

Não imaginara que a minha frágil pele pesaria tanto sob meus músculos.

O que vem depois da solidão?

Onde se esconde os deprimidos?

“Criatura que se esconde nas sombras, venha à luz para que eu possa ver suas feridas.”

Ó, voz que em meus ouvidos sussurra e em minha mente paira, diga-me, ao ver minha decomposição recolheu meus restos mortais e queimou-os no fogo da misericórdia?

Minha alma não poderia estar tão contente ao livrar-se do tormento das noites intermináveis.

E, ao ver em cinzas o que pertenceu ao meu corpo de carne, o cantar mórbido do corvo transformou-se na canção viva do rouxinol, no dia de flores amarelas.

Emanuela V Araújo
Enviado por Emanuela V Araújo em 03/10/2014
Reeditado em 03/10/2014
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