Récita (Poema em memória Orfelica)

Noite enluarada, céu de escuridão fria.

As estrelas cintilam numa existência do tempo de nós.

Ouço o canto das soturnas corujas, a ninar as trevas.

O vento semelhante um Lorde, vêm, e arrebata as folhas das arvores.

Passa voando um morcego para a direção das sombras das matas.

Os grilos timbram com o roçar dos galhos... E os passarinhos ficam mortos.

Neste instante os fantasmas cantam um mesmo hino, e param quando chega à meia noite.

Perambulam no solo as cobras, e as aranhas chupam o sangue da mosca.

Um vai e vem de sombras minúsculas, e, barulhentas, que tiram a paz dos pardais... Que despertam com o luar a beijar o lago.

Gritos de crianças remotas, de tempos passados, assustam os sonhos dos urutaus.

Espectros da ira atraíram as virgens... E no amor proibido nasce uma criança morta.

Começa a chover e as gotas de orvalho poluído dissolve as arvores petrificadas.

Não mais se ver o choro de prazer dos apaixonados, somente a canção dos anjos moribundos.

Todos mortos... Todos vivos a espera dele que não mais virá.

Um arrepio de pânico abala os juncos, e da copa da arvore cai um cacho de pus.

O morto faz amor com a morte, e chama ao seu encontro, a dama solidão para a uma orgia com a esperança.

Sobe um vendaval que destelha as casas, sobe uma tempestade que arrebata os pais, sobe umas labaredas de fogo que apodrece o solo dos cemitérios.

A noite dos vivos desiludidos chegou!

Não existirá mais Deus, não existirá mais deuses, os pagãos serão nossos governantes, e o grande pesar da tristeza alvoroçará as mães parturientes.

Todos dormem e não mais se vê o amor nos olhos dos filhos, apenas lágrimas.

Os namorados fazem um pacto com a vela, e ela lhes trai.

Anjos com cintos podres comem gafanhotos, e animais mutilados, dormem ao lado dos leprosos limpos no leito da cama.

A lua ficará partida, o príncipe morrerá, a coroa deixará de dar orgulho... E os palácios não significaram nada mais apenas, a rainha será sucedida pela duvida, e a nação falirá nas mãos dos fanáticos.

As matas chamam para dançar numa roda de fogo, e come-se carne branca com ovas de peixe.

A lua deixará um brilho nos olhos dos povos, e as sombras dos milênios aterrorizará o agora presente.

A virgem será desmascarada como falsa, e o filho será cuspido na cara.

Nada mais reluzirá nenhuma glória, as crianças serão tristonhas pelo amor aos perdidos...

Noites com uma neblina espessa fechará o entendimento dos corajosos.

As mulheres se banharam em plena madrugada, mas depois continuarão sujas.

A fonte da vida será um prenuncio de guerra e desamor em todos.

A lua e o sol não mais serão os mesmos, e estrelas não serão objeto de estudos, mas de medo.

Um fio de luz voltará em plena tarde e manhã, mas nisso tudo chamará os românticos de loucos, e o findar dos beijos terminará em gemidos na cama.

Meu amor perdoe-me, não sou aquilo que tanto as mulheres esperam de um homem.

Nessa noite de complexidade de raciocínio os sábios voam em pleno céu azul.

Cantamos uma canção de amor por ti minha cara joia rude.

E as portas do horror matam os passantes na ponte a cruzar os infernos...

Há meu bem queria apenas não ser feliz, por isto, aceito o suicídio das emoções que perfuram como agulha enferrujada e torta.

Meu coração se tornou um poema em minha verdade, mas minha verdade se tornou um conto engraçado num romance que falta as paginas.

Francesco Acácio
Enviado por Francesco Acácio em 31/10/2014
Reeditado em 31/10/2014
Código do texto: T5018243
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